Entrevista ao JN



“As pessoas boas são agressivas perante a injustiça”


Estreou-se na televisão na novela “Terra mãe” e ainda se lembra dos “puxões de orelhas” dado pelos que o acompanharam no arranque como Armando Cortês. Desde então, Diogo Morgado considera estar sempre a aprender e acha que os actores devem experimentar todos os géneros para poderem ser mais versáteis.

Jornal de Notícias Como surgiu a oportunidade de interpretar o “Santiago”?

Diogo MorgadoFoi um convite por parte da Teresa (Guilherme). Andava a fazer-se testes para o “Jura”, e houve a hipótese de eu poder entrar. Acabei por não participar e mais tarde soube que era para fazer esta novela.


É um personagem difícil de interpretar?

Acho que não há personagens fáceis de interpretar. Há umas mais rápidas e mais imediatas do que outras, que requerem um bocadinho mais de composição. Esta personagem, por estar a sofrer uma situação que eu não conheço - nunca estive dez anos preso, a minha família está toda bem, nunca me faleceu ninguém - tem que ser preparada muito através da observação de situações semelhantes e de uma imaginação de “como seria se…”.


Então não há características do “Santiago” com que se identifique?

Talvez a esperança. Ele acredita que de alguma forma o dia que há-de vir será melhor.


Se ele é uma pessoa com esperança, vale a pena vingar-se?

Não sei se a vingança vale a pena. Será que se algum de nós que tivesse vivido aquilo que ele viveu essa pergunta se colocaria sequer? Ainda para mais, tratando- -se de uma pessoa boa. As pessoas quanto mais boas são mais agressivo se torna o seu sentimento perante a injustiça. Que é o caso do “Santiago”.


O que é que está a aprender com esta experiência?

Acho que nós nunca paramos de aprender. Todos os dias aprendemos mais um bocadinho. Não consigo especificar exactamente o quê, mas acho que personagens com esta importância e dimensão, ainda para mais apoiado por um elenco gigantesco e maravilhoso, acho que todos os dias me fazem a aprender.


A sua carreira tem sido muito versátil. É importante para si, enquanto actor, ir experimentando vários papéis?

É mais fácil compreender cada trabalho, quanto maior for a diversidade de aspectos e de formas que se podem fazer. Fiz os “Malucos do riso” durante um ano e meio e foi um trabalho do qual me orgulho bastante, porque tive a oportunidade de experimentar uma coisa completamente diferente. O espectro de observação do ser humano é alargadíssimo. E nós, enquanto actores devemos ter conhecimento dele todo, para que depois possamos optar da forma melhor de acordo com cada personagem e cada trabalho.


Neste momento, qual é o registo em que se sente mais à vontade?

Essencialmente, gosto de trabalhar com bons profissionais. Há alguns anos atrás poderia responder que gostava mais de trabalhar em teatro, em comédia ou em cinema. Mas de alguns anos para cá tenho vindo a aperceber-me que há trabalhos que à partida têm tudo para ser muito bons e não correm bem. E há trabalhos que nem sequer me dão uma grande expectativa e que no entanto correm brilhantemente.


Que papel é que ainda não interpretou, mas que gostava de desempenhar?

Há alguns flagelos que atingem a nossa sociedade no que diz respeito às doenças, às drogas. Há lados frágeis da vida humana que raramente são expostos na televisão ou são ficcionados. E é um campo tão válido como os outros e acho que são personagens que dão gozo fazer porque não é comum isso acontecer.


Qual foi o trabalho que o marcou mais?

Há trabalhos que marcam por razões diferentes. Em 97 fiz a minha primeira novela, “Terra mãe”, e ainda hoje me lembro de coisas que se passaram naquela altura, de ensinamentos, de puxões de orelhas que, se calhar, se eu não os tivesse tido provavelmente hoje não estaria aqui. Lembro-me do Armando Cortês, da Lídia Franco, de tantas coisas que eles me disseram. Em teatro, fiz uma peça que infelizmente passou despercebida no Teatro Nacional que foi a “Real caçada ao sol”, onde me custou muito deixar o personagem, que tinha uma composição muito forte.


O actor é “Santiago Medina” na mais recente aposta da SIC no horário nobre. “Vingança” é uma adaptação do clássico “O conde de Monte Cristo”, onde o herói tem como objectivo castigar os que o atraiçoaram. Diogo Morgado nunca esteve na mesma situação, mas compreende a posição do personagem e identifica-se com a esperança que este tem no futuro.

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